quinta-feira, novembro 04, 2010

A uma geração que se quis livre e a outra que morreu no ultramar



La Bohème (tradução)

Eu lhes falo de um tempo
Que os menores de vinte anos
Não podem saber
Montmartre naquele tempo
Colocava seus lilás
Até sob nossas janelas
E se o humilde quarto mobilado
Que nos serviu de ninho
Não tinha um boa cara
Foi lá que a gente se conheceu
Eu que chorava miséria
E você que posava nua

A boémia, a boémia,
Isso queria dizer: a gente é feliz
A boêmia, a boêmia,
Nós só comíamos um dia em dois

Nos cafés vizinhos
Nós éramos alguns
Que esperávamos a glória
E apesar da miséria
Com o estômago oco
Nós não deixamos de crer na glória
E quando, em alguma taverna
Com uma boa comida quente
Nós pegávamos uma tela
Nós recitávamos versos
Juntos ao redor do aquecedor
Esquecendo do inverno

A boémia, a boémia
Isso queria dizer: você é bonita
A boémia, a boémia
E nós tínhamos ideais geniais

Frequentemente me acontecia
Diante do meu cavalete
Passar noites brancas
Retocando o desenho
Da linha de um seio
Da curva de um quadril
E isto só pela manhã
A gente se sentava finalmente
Antes de um café com creme
Esgotados mas deliciados
Era preciso que a gente se amasse
E que amasse a vida

A boémia, a boémia
Isso queria dizer: a gente tem vinte anos
A boémia, a boémia
E nós vivíamos do ar do tempo

Qualquer dia desses
Eu farei um passeio
Ao meu antigo endereço
Eu não o reconheço mais
Nem as paredes, nem as ruas
Que viram minha juventude
E do alto de um escadaria
Eu procuro o atelier
Que não existe mais
Em sua nova decoração
Montmartre parece triste
E os lilás morreram

A boémia, a boémia
A gente era jovem, nós éramos loucos
A boémia, a boémia
Isso não quer dizer absolutamente nada


O Portugal de Salazar é feito de duas gerações jovens: uma que fugiu para França e outra que "morreu" na guerra em África nas antigas colónias Portuguesas. Ambas cultivavam a inspiração pelos valores, música e ideais franceses.

As gerações que se seguiram divergiram primeiro para os ideais ingleses e depois para o mundo novo e livre do sonho norte-americano. Encontrei, já por várias vezes, vários exemplos das anteriores gerações e, não são, afinal, assim tão "pimbas" ou "folclóricos" como me habituei a vê-los, sempre de cassette de Charles Aznavour em permanente rodagem no auto-rádio do Renault ou Peugeot. Passei a perceber que as gerações que combateram na guerra - e aqui bem percebo os resultados por proximidade familiar - ficaram em África. Agora com 60 e poucos anos, são ainda os adolescentes que partiram e choram o roubo da juventude. Os jovens que emigraram para França, para o desconhecido, tiveram a ousadia de opinar, pela primeira vez num país que era ainda de Salazar e da PIDE.

Não me atrevo a dizer qual foi a melhor geração e quem fez melhor: quem ficou ou quem se foi. Mas percebo que ambas foram estruturantes para o país. Só tenho pena que os que emigraram para França não tenho depois trazido mais valores da defesa da liberdade e da expressão que por lá se faz sentir por estes dias em que o país esteve em greve geral contra o devaneio dos políticos consumidos pelo capitalismo.

quinta-feira, outubro 28, 2010

Em honra aos políticos deste país

segunda-feira, junho 21, 2010

Tintin julgado na Bélgica

Parece ser a primeira vez que o Tintin, personagem bem conhecida e criada por Hergé, vai a julgamento. Um dos conhecidos livros do jornalista, "Tintin no Congo", vai ser analisado por juízes na Bélgica. A controvérsia tem mais de 60 anos e o contador congolês Bienvenu Mboto Mondondo abriu o processo acusando o livro de propagar ideias de racismo e colonialismo na representação que faz dos africanos.

A principal crítica de Mondondo está na representação do domínio belga sobre o Congo (que durou até 1960) como um período pacífico, quando há estimativas que a população do país africano caiu em 10 milhões durante o período crítico de dominação. Além disso, o álbum mostra os congoleses como um povo com deficiências de aprendizagem e que adora o homem branco como se fosse um deus. O Tribunal de primeira instância decide se tem jurisdição sobre este assunto ou se é da competência do Tribunal do Comércio.

Porque não julgar também a cadela Milú?

sexta-feira, junho 18, 2010

Saramago: "É menos um comunista"



"É menos um comunista". Foi assim que soube que José Saramago hoje morreu. Pela voz quase opinião do pobre espírito de um empregado de mesa. Teve, pelo menos, o cuidado de avisar que podia estar a ferir susceptibilidades. E feriu, a minha de ser português e de admirar quem sonha e consegue ser maior que o país que sempre teima em capturar o génio e a vontade dos seus.

Nunca li um livro de Saramago. O interesse, turvado pelas críticas de uns quantos que dizem que escreve mal, menos bem ou não usa virgulas, nunca chegou para comprar um livro. Hoje decidi que o vou fazer. Mea Culpa. Há alguns meses, em plena igreja ouvi um padre aparentemente sábio a criticar "Caim", o último romance de Saramago. Perante a sacanice do discípulo de Deus, riu-se a plateia do Senhor, em gargalhadas tantas que fui assomado pela gigante dúvida de estar ou não numa igreja. Percebo a pequena vingança perpetrada. Saramago sempre teve o dom de fazer pensar as pessoas. E em certos quadrantes, seja ele o da Ciência ou o da Religião, há muitos que não querem que o Povo pense.

Quando soube da morte do prémio Nobel da Literatura desfolhei notícias e entrevistas avulsas por todos os jornais que se apressaram a homenagear Saramago com manchetes imediatas na Internet. Nunca li nenhuma obra sua, mas não consegui evitar cair no lugar comum daquele que lamentou não o ter conhecido ou ouvir mais cedo as suas palavras. Para um comunista convicto, como ele o era e talvez ainda seja - eu não tenho militância - já estaria a ser demasiado penoso o rumo levado por este país de políticos sem moral. Não é por isso inocente o seu exilio em Lanzarote, nas Ilhas Canárias.

Numa entrevista ao jornalista Adelino Gomes do Jornal Público em 2006, Saramago respondia assim sobre o que se pode fazer para mudar este País:

"O que fazer? Temos um cerimonial democrático cada vez mais falto de vergonha: campanhas eleitorais que custam rios de dinheiro, subsidiadas muitas vezes não se sabe por quem ou demasiado se sabe por quem; promessas que se sabe de antemão não serão cumpridas; processos cosméticos do género de termos um Governo de um partido socialista mas não um Governo socialista. Porque, aqui e em qualquer parte do Mundo, o partido no Governo vai poder chamar-se o que quiser porque vai ter que fazer exactamente a mesma política. Uma comédia de enganos. Não servimos para nada mais senão para homologar coisas que não têm nada que ver connosco porque não podemos influir nelas. Aristóteles, na Política, dizia que, num Governo democrático bem entendido, o governo da Polis, os povos deviam estar em maioria, pois são a maioria".

Hoje estou como um grande amigo jornalista. Há minutos dizia que, perante a morte de Saramago - que decerto terá tido as suas grandes falhas e defeitos quiçá segredos penosos e hereges - só pode berrar e chorar. Não há quem possa negar a grande sinceridade liquida como via a realidade das coisas e a verdade com que a expressava sem medo dos poderosos. Por isso, não há quem possa negar que sempre ousou pensar e bater-se pela liberdade. E quem o faz, mau antes ou bom depois, seja no passado ou no futuro, merece sempre o reconhecido do seu mérito.

Fica o vídeo de um homem desassombrado.

terça-feira, junho 15, 2010

JN: "Droga não vai começar a partida com Portugal de início"


Vi há pouco esta notícia no JN online. "Droga"...não será Drogba? Boa correcção ortográfica sim senhor. É caso para dizer que com "Droga" Portugal vai lá!

segunda-feira, junho 14, 2010

Casamento gay a la Quim Barreiros



Esta é a nova música do Quim barreiros que já teve as mais críticas reacções no plano mediático, nomeadamente do actor Vítor de Sousa que chocado com a letra disse que em causa está uma grande falta de respeito. Eu diria que antes de mais está uma grande paródia.

É preciso ver que o Quim Barreiro é um parodiante e que, no seu estilo de música, fala de tudo, nas mulheres "cabras" e da "rua" e até no cornudo. Só faltava o gay. Uma coisa é certa. O Quim aproveitou bem o actual momento político e social. o resto é música..

Fica a letra e o vídeo da música.

Casamento gay - Quim Barreiros:

Os politicos votaram, o casamento gay
Nem todos estão de acordo com a aprovação da lei
O Zézinho paneleiro, casou co Manel das Tricas
Convidaram a familia, amigos e os maricas.
Um casamento panasca, com muita animação,
Os larilas beijavam-se numa grande confusão,
Depois da cerimónia, o cozinheiro falou
Com gestos de bichona, o menú apresentou.
Primeiro vaca, galo, ou assado de perú,
E como sobremesa, banana pêssego.
Refrão:
Primeiro vaca, galo,ou assado de perú,
E como sobremesa, banana pêssego.

segunda-feira, junho 07, 2010

Uma crise com o rosto de quem pede na rua

Há pouco, no Porto, vi uma mulher, com cerca de 50 anos, a pedir na rua. Passou por mim, razoavelmente vestida com a roupa de quem não costuma pedir. Suplicava esmola na rua para ir comprar medicamentos à farmácia. Pedia a quem parecia mais gracioso.

Não se pode evitar o choque de olhar para alguém que normalmente não faz parte do reino das esmolas e chora perante frustrada perante a sua vida num beco sem saída chamado "Crise".

Alemanha corta nos subsídios. Natal na Europa vai ser mais pobre este ano



A Alemanha parece estar a dar o exemplo na Europa com o plano de austeridade severo que está a preparar. Vai poupar 10 milhões ao ano, especialmente em prestações sociais. A medida mais exemplar do plano é o possível corte do subsídio de Natal.

Parece que o Natal este ano vai ser mais pobre na Europa...A Alemanha espirra e a Europa constipa-se.

domingo, junho 06, 2010

Vuvuzela: afinal a corneta ancestral pode dar cabo dos...ouvidos

É a notícia curiosa do dia em que a selecção portuguesa chega à África do Sul, onde toda a gente berra. Os cientistas dizem que a Vuvuzela, corneta ancestral antes usada para chamar e convocar entre povos, pode provocar sérios danos negativos na... audição.

sexta-feira, junho 04, 2010

Empresário do iPhone diz que tem uma boa vida sexual


"A minha vida sexual é óptima, Walt, e a tua?" Steve Jobs, o popular CEO da Apple, deixou toda a gente de boca aberta com esta resposta a Walt Mossberg, o reputado colunista de tecnologia do "Wall Street Journal", durante o arranque da conferência anual All Things Digital. Mossberg tinha perguntado como está a relação entre a Apple e a Google, que nos últimos tempos passou de amistosa a combativa, ao estilo guerrilha. O colunista pressionou Jobs. Perguntou se este se sentia traído pela Google. E a resposta foi a última que se esperava. In: jornal i

Os empresários falam realmente de coisas muito interessantes e contextualizadas em altas conferencias oficiais.

Nos Estados Unidos morrem 30 crianças por ano esquecidas nos automóveis

Um especialista da NASA -Agência Espacial norte-americana tem a solução. Inventou um sistema que recorre ao peso exercido no banco para detectar a presença de crianças e acciona um alarme no porta-chaves do condutor que se encontra fora do carro.

As marcas de automóveis resistem à sua comercialização porque cada uma das mortes é trágica, mas as mortes são poucas e a instalação do sistema representaria o encarecimento de todos os veículos.

quinta-feira, junho 03, 2010

Nani apanhado na berma da Coina pela GNR

Nani foi mandado parar pelas 08h30 por uma patrulha do Destacamento de Trânsito de Coina...

O internacional português Nani escapou ontem a uma pesada multa da GNR, que o deixou seguir depois de ter interceptado o futebolista a conduzir na berma da auto-estrada do Sul (A2), perto da estação da Fertagus de Foros de Amora. In Correio da Manhã

Qualquer de nós teria levado uma grande ...coima.

Ensaio Sobre a Cegueira: Constâncio responsável pela Estabilidade Financeira da Europa


Há pouco ouvi na TV que Vítor Constâncio, que falhou na supervisão à frente do Banco de Portugal, vai ser responsável pela pasta da Estabilidade Financeira no Banco Central Europeu. O Mundo está louco?

quarta-feira, junho 02, 2010

Cromo em viagem: "Deus sem você é Deus. Você sem Deus o que será?"


Apanhado no Algarve completamente parado...estacionado pelos radares de um turista em completo relax de férias no Algarve.

P.S.: Estou de volta.

terça-feira, junho 01, 2010

Ex-director do i....contratado por Balsemão


O ex-director do jornal i, Martim Avillez Figueiredo, foi contratado por Francisco Pinto Balsemão, homem-forte da Impresa, proprietária da SIC. O jornalista fundou em 2009 o diário i, de onde saiu este ano por não concordar com um plano de redução de custos que lhe foi apresentado e na sequência do anúncio da possibilidade de aquele órgão do grupo Lena ser vendido.

Sócrates versão Otelo Saraiva de Carvalho

Primeira página do Diário de Notícias de hoje. Descubram as diferenças.

domingo, maio 23, 2010

Férias: I'll Be Back

terça-feira, maio 18, 2010

Casamento Gay: "Cavaco dá o Nó"


Depois da "Bentania" do Primeiro de Janeiro chega o Nó do Metro. Não sei onde está a tentar chegar o "jornalismo" cá desta praça lusa, mas de certo que não é ao rigor e à sobriedade da verdade.

P,S,: Insultar instituições de soberania é um crime público e o Presidente da República é uma "instituição" consagrada na Constituição da República Portuguesa. Cavaco não deu o nó, tão só aprovou o diploma que permite o casamento homossexual. Aliás o diploma já vinha da Assembleia da República. Porque não colocar em primeira página. "Deputados dão o nó?".

segunda-feira, maio 17, 2010

Bruna de Mirandela: O Corpo Docente da Polémica



Bruna Real, a professora de Mirandela que ficou famosa por ter pousado nua para a Playboy e esgotado a revista no concelho (assim como fôlego dos imberbes rapazes estudantes) apresentou-se ontem ao serviço na Câmara. As fenomenais glândulas mamárias e as iguais curvas são da "óptima" (diz-se) professora de Expressão musical. Mudar a senhora professora de serviço só porque se mostrou às gentes como veio ao mundo é mais um episódio do pequeno país que somos.

E duvido que seja uma decisão legal, mas tenho a certeza que agora a câmara está muito bem melhor servida de...secretárias.

Cavaco fala às 20h15 sobre casamento gay

O Presidente da República anunciou na página da Presidência que vai fazer uma declaração às 20h15 sobre o diploma do governo que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo. O presidente tem até ao dia de amanhã para anunciar o veto ou a promulgação do diploma. Fonte: jornal i

domingo, maio 16, 2010

Fechem o Primeiro de Janeiro (de vez) por favor!

Mais uma machadada.

Papa visita Portugal, Governo aumenta os impostos




Não acredito em coincidências, pelo menos em toda a sua plenitude. A visita do Papa a Portugal caiu como ouro sobre azul numa altura em que se lançam as tão faladas medidas de austeridade. Quando o Governo aumenta os impostos, o Senhor tem de aumentar a fé dos devotos. Nada que um ditador do passado já não tenha feito.

Aqui ficam fotos da visita de Bento XVI ao Porto a 14 de Maio de 2010.

sábado, maio 01, 2010

Aviso à Navegação: O 1.º de Maio voltou a fazer sentido


Parece quase uma blasfémia trabalhista dizer que o 1.º de Maio voltou a fazer sentido, mas a verdade é que há muitos anos que os mais jovens não se identificavam tanto com o valor simbólico da histórica manifestação anual. O mundo é hoje um sítio mais conturbado. Desde que o sistema capitalista norte-americano anunciou as suas grandes fragilidades que os sistemas financeiros e sociais dos restantes países iniciaram o possível caminho do colapso.

Hoje, milhares de jovens na Grécia, o país que simboliza o pior dos cenários sociais do momento, envolveram-se em confrontos violentos com a polícia. Pedem ao governo que termine o plano de austeridade que, dizem, corta os salários e não ajuda na recuperação dos empregos. Estão a notar alguma semelhança com algum território luso? A UGT e CGTP discursam hoje também para milhares de pessoas que se manifestam em Lisboa. Na Alemanha, o retrato de violência é o mesmo.

124 anos depois da primeira grande manifestação de trabalhadores nas ruas de Chicago nos Estados Unidos da América, a data e os princípios do protesto voltam a ganhar força. A violência sempre foi o meio último dos trabalhadores na luta pelos mais elementares direitos quando os políticos roubam e os pobres poupam à mesa para desafogo do Estado. Portugal não será diferente...

domingo, abril 25, 2010

O Problema do 25 de Abril foram os cravos


Há 36 anos acabava o longo reinado de uma ditadura peculiar...à portuguesa. Um regime fascista pensado e feito à medida de Salazar e colocado em prática pela polícia política PIDE. A madrugada da liberdade ficará para sempre em dívida para com os capitães de Abril. Sonharam o que até agora não se cumpriu. Salgueiro Maia levou para a eternidade a mágoa de um país que quis diferente mas não se mudou. Há muito que Portugal não honra a vontade dos seus heróis. É um país acomodado na preguiça do seu povo e o povo são todos que cá vivem. O pobre sonha, o rico ambiciona e rouba. É sobre estes pilares conceptuais deste povo que qualquer regime cá funcionará seja uma ditadura ou uma democracia (disfarçada, leia-se).

O problema do 25 de Abril de 1974 foram o cravos que interrompiam os canos das armas dos soldados. O mal foi o heroísmo incrível de um punhado de oficiais do exército ter passado de imediato para ao romantismo de uma revolução que na prática não existiu. Os militares não foram a Lisboa fazer uma revolução armada. Foram pintar um quadro com os cravos vermelhos numa tela que há muito já os esperava. O erro do 25 de Abril foi o vermelho ter saído de uma flor da liberdade e não do sangue de uma revolução.

Só em Portugal se nega o sangue a um povo que foi oprimido - e alguns torturados e mortos - durante quatro décadas. Só nesta terra se sai à rua para depor um ditador com cravos rubros na mão. Funcionou, por certo, em pleno a magia e o romantismo de uma "revolução" de uma forma poética sem exemplo em qualquer outro país. É por isso que podemos dizer que Portugal é um país de poetas. Falta-lhe a vontade do povo. Os poetas de grande calibre nada podem fazer contra este marasmo das gentes. Até na luta pelos seus direitos as gentes são preguiçosas. Basta respirar e ter pão à mesa. Um pouco de televisão também é essencial. Não vêm mal nenhum nos gestores públicos que todos os dias roubam a fazenda nacional. É compreensível, porque até para roubar é preciso algo trabalho e esforço, mérito que nem todos querem almejar.

Portugal é um país de grande âmago poético mas ao mesmo tempo triste. Vive-se hoje um conflito mudo entre gerações pré-revolução com pouca e nenhuma escolaridade e os jovens com formação superior, fartos deste país pobre besuntado de ladrões, prontos, por isso, a emigrar em busca de melhor vida. Pelo meio, há uma nova gerações de jovens que pouco estudam e decidiram seguir a vida de gangster. Por isto, todos roubam, pobres e ricos. O país está a saque e os únicos que o poderiam salvaram zarpam.

Se os cravos não se tivessem precipitado de imediato, teria havido a fúria do povo e dos militares. Não há negociação ou bom senso possível com gentalha que torturou o país durante 40 anos. Como pode haver? Mas houve. Não há presos, ninguém (que se saiba) foi julgado pelos actos cometidos durante o regime. Devia ter saído à rua a coragem e a ira de um povo zangado que podia entrar nos palácios da ditadura e deixar a sua marca. Uma revolução precisa de um dia desmedido sem limites, antes do romance da vitória.

É por isso que agora, voltamos a repetir o exemplo com nova mas igual gentalha. Vivemos um democracia que de democrática nada tem. Cavaco Silva alertou hoje para os salários obscenos dos gestores públicos e perguntou para que rumo estão a levar Portugal. Mário Soares diz que está tudo bem. Sócrates diz que está tudo bem e acusa dos jornalistas que acharem que o presidente da República está sempre a criticar o primeiro-ministro. Não está? Vivemos num país em que é preciso puxar ao autoclismo. Não há nariz que aguente este gentalha política que rouba sem vergonha. Vivemos num país em que se perdeu a noção do ridículo e da vergonha. Temos um país de políticos sem vergonha. E quando se perde a vergonha, perde-se a esperança na reconquista do respeito pelo próximo. A ladroagem é assumida.

E o mal...é que vivemos num país com um povo fraco e preguiçoso que traiu Abril e os seus capitães. A esperança é que as novas gerações venham limpar os estrume dourado que muitos estão a deixar acumular nos cadeiras do poder. Não se espantem se a malta um dia voltar a sair à rua....e só depois chegar a poesia.

segunda-feira, abril 19, 2010

O Benedictus Alberto João Jardim e o Cardeal Cerejeira Sócrates

O Diário de Notícias publica hoje uma fantástica foto na primeira página. É um apontamento fotográfico que parece apenas possível através de fotomontagem. Mas é verdade. Alberto João Jardim "reza" à chegada do primeiro-ministro, José Sócrates, para um encontro onde acertaram ajuda de mil milhões à Madeira na sequência da tragédia dos aluviões.

domingo, abril 18, 2010

Papa depois, abusa antes

Após os vários episódios de escândalo de abusos sexuais em torno da Igreja Católica, o Papa decidiu finalmente encontrar-se com as vítimas em Malta. Enfiar a cabeça na areia como a avestruz nunca será uma boa estratégia de comunicação para anular quer uma verdade indesejada quer um boato de maledicência - há que colocar essa hipótese em relação a algumas notícias.

É uma boa oportunidade para Bento XVI pedir ajoelhar-se e pedir perdão a algumas dessas vítimas, em nome da Igreja e de padres que parece que já prometeu castigar. Diz-se que o Papa expressou a sua vergonha e tristeza pela dor que os homens sofreram. Espero que esteja a falar das vítimas.

Foi o primeiro encontro com vítimas de padres pedófilos desde os que foram realizados em 2008 na Austrália e nos Estados Unidos.

Segundo revelações recentes, 45 processos de pedofilia foram comunicados à Cúria de Malta desde 1999, dos quais mais de metade (26) foram considerados fundamentados por uma comissão especial criada para o efeito.

Não sou ateu, nem completo devoto. Vou sendo católico que é algo que, estou certo, os devotos não aceito. Compreendo porquê, mas assim sou. Eu não aceito, e por certo, milhares não aceitam que a Igreja que na sua génese tem o dever de proteger os mais frágeis seres de sociedade se aproveite deles.

É preciso proteger a Igreja da própria Igreja? Espero que o Papa o faça. Aguardo fumo branco.

sábado, abril 17, 2010

Nuvem de cinzas sobre a europa: depois do desastre financeiro, o desastre natural


Começo este texto com o título de uma resenha do do Jornal de Notícias de hoje. "Depois do desastre financeiros, o desastre natural", escreve o jornal. Não é nada que a humanidade não pudesse prever. Eu diria que foi avisada várias vezes. Pelo menos nos últimos anos, o ex-candidato à presidência dos EUA, Al Gore, tentou avisar o Mundo dos graves efeitos da poluição com o documentário "Uma Verdade Inconveniente".

16 mil voos foram cancelados hoje na sequência do encerramento do espaço aéreo de boa parte dos países do norte e centro da Europa. Quase todos os aeroportos desses países não estão a operar ou estão encerrados. A solução talvez seja recuar nos tempos modernos da poluição sem fronteiras e voltar ao velho e mais ecológico comboio. Até porque as locomotivas não têm, para já, qualquer problema com as nuvens que andam bem lá em cima a milhares de pés de altitude. Há quem tenha encontrado uma alternativa mais cómica.

A TAP avisou hoje que mantém apenas os voos nacionais entre Lisboa, Porto e Faro e as ligações com Espanha e Roma, Itália. E pede aos passageiros para saírem dos aeroportos ( porque devem estar a incomodar?) e que esperem em casa por novidades acessíveis no site da companhia aérea. A questão que poderá vir a revelar-se mais problemática é que a nuvem vulcânica que partiu de um tal vulcão "Eyjafallajokull" - cujo nome é impronunciável e que num ápice se resolveu abrir as goelas ao mundo - está a aproximar-se da fronteira da França com Espanha.

É no mínimo curioso e admirável o que a natureza consegue dizer aos Homens. Em poucos minutos conseguiu parar boa parte dos aeroportos do mundos. Há milhões de pessoas retidas nos locais de férias, algumas delas estão a dormir nos aeroportos. Que tal irem de comboio? O Presidente da República, Cavaco Silva, já se decidiu. Vem de Praga a Espanha de carro. Depois apanha o avião. Angela Merkel, chanceler alemã, também fará o mesmo de Lisboa à Alemanha.

Acho que já está na altura de o Homem pensar em fazer realmente alguma coisa e parar. A Natureza talvez esteja a querer dizer algo...

sexta-feira, abril 16, 2010

Siza triste com a cinza que criou na Baixa do Porto


Siza Vieira: "Quando vou à Baixa fico triste. É um deserto" - em entrevista ao JN. É preciso sublinhar que o senhor que admite tal tristeza foi o mesmo que, durante a recuperação da Baixa do Porto, teve a ideia de retirar toda a calçada portuguesa da Avenida dos Aliados e que a transformou num deserto de cimento.

Agora é tarde de mais para rebates de consciência, mas mais vale tarde do que nunca.

segunda-feira, abril 12, 2010

Pagava para ter esta brasileira no Parlamento português



Se Cidinha Campos estivesse na Comissão de Inquérito à actuação do Governo no negócio PT/TVI,Sócrates finalmente ia engolir em seco várias vezes...e acabava por sair réu...quiça ..detido

domingo, abril 11, 2010

Herman e PSD : "Ò Tempo volta para trás"



O Herman José está de volta à RTP depois de diversos excessos e um humor onde a única piada eram as avultadas mamas de polacas em passeios desnudos por carnaxide. O PSD parece (repito, parece)estar a unir-se para, pelo menos, motivar o país para agora melhor. Isto alheio, claro, a qualquer militância política.

Será que algo está a mudar?

domingo, abril 04, 2010

Um café sem Letras


Há quase uma dor. As velhas palavras num jornal escrito a chumbo saltam de um fulgor que já não se usa. Fazem velhas manchas num escrito que é de novidades velho no tempo. Soltam-se os nomes assinados no topo das peças vertidas a retalho, como que percebidas pelos dedos dos autores. Escritores, que, ávidos, teclaram como feiticeiros a sorver a vida de pessoas reais, personagens de uma vida que se tornou estória de um diário.

Há quase uma mágoa. Perceber que o som se faz silêncio quando não se ouvem os passos e as piadas de um velho que para o chumbo e para a vida sempre foi jovem. O branco das paredes pintadas a secretárias - maquinas de escrever, computadores, impressoras, telefones frenéticos e apontamentos sonoros - fez-se gélido e congelou o cravo que no tempo era a liberdade. Parece que o café não é mais o catalisador de uma manhã ainda a acordar e que o whisky se desfez numa garrafa vazia. Uma cadeira azul vazia é como o céu sem nuvens, perfeito e sem as manchas da vida, pecados e nódoas que o destino sorve como um glutão endeusado em costumes e pessoas.

Há um esgar de saudade que se perde num esvoaçar solitário e incauto. Uma mesa em que pairaram as estórias de vidas e passagens de luta não mais o será sem o escrivão genial. A caneta não tinge o papel sem o jeito do artista que em música fazia as palavras das histórias de ninguém. No quadro das memórias e dos recibos de momentos, cai a penumbra das dádivas do tempo. Uma fotografia roubada é como a imagem de uma alma num delicioso segundo sem preço. Um riso de anedota, um balbuciar de atraso à hora da escrita é como uma pecado fatal que, de irreverente e sem tempo, se cristalizou nos confins da mente do mestre.

Queria dizer-te que a cadeira está fria, sem calor possível que reconheça num espaço traçado por múltiplos sapatos. Queria explicar-te que o teclado não mais deixou escrever as palavras que vertias como um pianista de jazz que sobremaneira morre a cada frase que toca e flui em músicas que se soltam. Melodias juntas que contam momentos pescados do anzol surpresa que surgem de uma luz que não se percebe, mas se deixa entrar no livro dos mestres.

A máquina de escrever morreu há uma década. Há duas ficou sem tinta e ninguém mais a tocou. Queria mostrar-te o que todos os dias descubro e perguntar-te o que nem todos os dias sei. Queria a tua irritação, os teus inimagináveis horizontes humanos e a conservadora abertura de ideais e ideias modernas. Queria saber todos os dias o que é ser repórter, sem me achar a questionar a razão pela qual a moeda faz de um contador de histórias um insignificante e um solitário caminhante da noite.

Um país que não se lê e não sorve o tempo é um país que não vive nas palavras do âmago dos seus dias e na borra do café do manhã seguinte.

segunda-feira, março 29, 2010

"Jornalismo Adágio" - A nova moda de iogurte a Metro com prazo de validade

Dei de caras com este Metro quando hoje viajava de metro. É daquelas manchetes que não tendo história, tem estórias proverbiais.

terça-feira, março 09, 2010

Sócrates e o país dos pacóvios


"O primeiro-ministro está convencido que este país é um país de pacóvios"

Bagão Félix, há minutos na Sic Notícias

sábado, fevereiro 13, 2010

O Polvo que esgotou ao Sol - Páginas do Sol em PDF

Para os que não conseguiram agarrar a edição que esgotou

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Um Dantas ou uma classe de escritores mal pagos à jorna


MANIFESTO ANTI-DANTAS
por José de Almada-Negreiros

POETA D'ORPHEU FUTURISTA e TUDO

Basta Pum Basta!

"Uma geração que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi. É um coio d'indigentes, d'idignos e de cegos! É uma resma de charlatães e de vendidos e só pode parir abaixo de zero!"



Com as notícias que se esperam na madrugada de hoje, apesar de um artificio jurídico entretanto decretado,é caso para dizer como o Zeca, que a "morte saiu à rua num dia assim".Uso-lhe o verso numa metáfora contraditória à sua pretensão original. Dizia o zeca que "a lei assassina a morte que te matou". Brilhante poeta da canção de luta velada em surdina. Quase que fere a pele ver que décadas depois, tudo ficou por resolver. "O pintor morreu" e dele sobrou a pintura rubra sem que do sangue se tenha esvaído uma democracia sã.

A sociedade continua cheia de vampiros e que bela ironia perceber que da coincidência do destino se fez a curiosidade de duas estações televisões estrearem séries sobre...vampiros. Coincidência. Dizia o zeca "que eles comem tudo e não deixam nada".Oiço-lhe de novo a melodia e mais de 30 anos após a Revolução de 1974 que merda perceber que o que o povo sentia nessa data está cada vez a menos datas do regresso. E porque não é outra coisa, porventura uma infelicidade cuja acidentalidade nem merecemos, é uma merda!

Mais de três décadas passadas sobre os rubros cravos, vão-nos ao bolso da algibeira com tanta mestria como nos vão ao cérebro. Como é vil perceber que o novo Dantas é um grande feiticeiro que muitos engana. Hoje ouvi que o problema da justiça é estar partidarizada. Diria que o problema do país é o jornalismo ter nascido partidarizado na madrugada de Abril.

Dirão que não é errado um jornalista ter partido. Porventura não, se não for cego. É que a venda é que corta ao homem a raiz da razão. Um qualquer pensamento sempre sai da raiz mesmo que cortada. Décadas depois de Abril, as redacções de jornais agitam-se novamente. Faltam os repórteres de então para dar ao mote a espinha dorsal e toda uma mestria experiente de princípios e ética de coragem. Os que a vida e o desânimo não levaram, foram despedidos. Levou-os o poder político e económico para uma cama onde mijam e onde vão morrer velhos sem qualquer nobreza nem voz. Coincidência?

Restam os novos sem o referencial de princípios e dinheiro razoável para o sustento e para a fala desinibida. Felizes os que conheceram as velharias de uma classe que enjoa qualquer defunto. Não me interessa que um procurador de sua excelência (a República Portuguesa leia-se) e um presidente do Deus Supremo digam que não há relevância criminal para coisa nenhuma, ou que a verdade não é válida porque não foi o tipo certo a validar. Isso seria para os tribunais, se lá deixassem chegar o caso. Como uma grande antigo jurista hoje questionou: "mas estamos todos doidos?". Os tribunais procuram provar a verdade material. Qualquer manual básico diz aos mais incautos que o jornalismo procura a verdade original e quiça utópica.

O jornalista é por desiginio e função um ser mais sonhador e utópico que um magistrado do Ministério Público. Persegue com os dentes os contornos da verdade tal qual aconteceu. Dirão que isso é ser utópico e romântico. Seja, mas é na atitude e na tentativa de o ser que está a diferença. Se assim não fosse, não era o jornalismo o quarto poder e substituíam-se os repórteres por qualquer cronista de craveira.

Enoja-me ver um clero de bispos agora em apoteótica defesa dos princípios do senhor chefe máximo quando antes mandaram uma dezena para a fogueira e não questionaram o seus actos só porque os visados eram gente menor. "O chefe máximo não é um cidadão qualquer". Desculpe, diga lá outra vez. Isto é algum episódio do mundo da Alice no País das Maravilhas? O chefe tem mais responsabilidades por inerências, mas os direitos são os mesmos e os deveres ainda maiores.

Dá-me a volta à tripa cheirar um certo jornalismo podre e sórdido que se barricou em certas redacções e que repente se mostrou vergado por convicções partidárias. Não quero saber se o chefe é rosa, laranja ou vermelho. Quero saber se tem contas a prestar e se o seu livro de faltas é cada vez notoriamente maior. Já chega e o Povo merece saber. Se nada há para incriminar ninguém, que se mostre esse nada. Se o que abafam é nada, então mostrem o baralho de cartas e deixem de fazer batota debaixo da mesa. A verdade tem destas coisas. Quanto mais se conta maiores são as consequências e as cabeças a rolar.

Mas há algo em que realmente a Justiça e o Jornalismo são iguais: fazem-se do Povo e para o Povo. Tudo o resto é, em maioria, diferente. Há sempre uma altura em que o jornalismo sério - que existe como último bastião democrata - tem de quebrar a lei, resistir e denunciar. Pena que a coragem, ao contrário do Sol, quando apareceu não foi distribuída de igual forma para todos. Uma boa dose de tomates nunca fez mal na salada de um jornalista. A um repórter não chega um bloco e uma caneta. Como escreveu Almada Negreiro em 1916: "Basta".


terça-feira, fevereiro 09, 2010

Pedro Abrunhosa sem óculos de Sol ...quando ainda via o palco



E o o desamparo total...