domingo, abril 25, 2010

O Problema do 25 de Abril foram os cravos


Há 36 anos acabava o longo reinado de uma ditadura peculiar...à portuguesa. Um regime fascista pensado e feito à medida de Salazar e colocado em prática pela polícia política PIDE. A madrugada da liberdade ficará para sempre em dívida para com os capitães de Abril. Sonharam o que até agora não se cumpriu. Salgueiro Maia levou para a eternidade a mágoa de um país que quis diferente mas não se mudou. Há muito que Portugal não honra a vontade dos seus heróis. É um país acomodado na preguiça do seu povo e o povo são todos que cá vivem. O pobre sonha, o rico ambiciona e rouba. É sobre estes pilares conceptuais deste povo que qualquer regime cá funcionará seja uma ditadura ou uma democracia (disfarçada, leia-se).

O problema do 25 de Abril de 1974 foram o cravos que interrompiam os canos das armas dos soldados. O mal foi o heroísmo incrível de um punhado de oficiais do exército ter passado de imediato para ao romantismo de uma revolução que na prática não existiu. Os militares não foram a Lisboa fazer uma revolução armada. Foram pintar um quadro com os cravos vermelhos numa tela que há muito já os esperava. O erro do 25 de Abril foi o vermelho ter saído de uma flor da liberdade e não do sangue de uma revolução.

Só em Portugal se nega o sangue a um povo que foi oprimido - e alguns torturados e mortos - durante quatro décadas. Só nesta terra se sai à rua para depor um ditador com cravos rubros na mão. Funcionou, por certo, em pleno a magia e o romantismo de uma "revolução" de uma forma poética sem exemplo em qualquer outro país. É por isso que podemos dizer que Portugal é um país de poetas. Falta-lhe a vontade do povo. Os poetas de grande calibre nada podem fazer contra este marasmo das gentes. Até na luta pelos seus direitos as gentes são preguiçosas. Basta respirar e ter pão à mesa. Um pouco de televisão também é essencial. Não vêm mal nenhum nos gestores públicos que todos os dias roubam a fazenda nacional. É compreensível, porque até para roubar é preciso algo trabalho e esforço, mérito que nem todos querem almejar.

Portugal é um país de grande âmago poético mas ao mesmo tempo triste. Vive-se hoje um conflito mudo entre gerações pré-revolução com pouca e nenhuma escolaridade e os jovens com formação superior, fartos deste país pobre besuntado de ladrões, prontos, por isso, a emigrar em busca de melhor vida. Pelo meio, há uma nova gerações de jovens que pouco estudam e decidiram seguir a vida de gangster. Por isto, todos roubam, pobres e ricos. O país está a saque e os únicos que o poderiam salvaram zarpam.

Se os cravos não se tivessem precipitado de imediato, teria havido a fúria do povo e dos militares. Não há negociação ou bom senso possível com gentalha que torturou o país durante 40 anos. Como pode haver? Mas houve. Não há presos, ninguém (que se saiba) foi julgado pelos actos cometidos durante o regime. Devia ter saído à rua a coragem e a ira de um povo zangado que podia entrar nos palácios da ditadura e deixar a sua marca. Uma revolução precisa de um dia desmedido sem limites, antes do romance da vitória.

É por isso que agora, voltamos a repetir o exemplo com nova mas igual gentalha. Vivemos um democracia que de democrática nada tem. Cavaco Silva alertou hoje para os salários obscenos dos gestores públicos e perguntou para que rumo estão a levar Portugal. Mário Soares diz que está tudo bem. Sócrates diz que está tudo bem e acusa dos jornalistas que acharem que o presidente da República está sempre a criticar o primeiro-ministro. Não está? Vivemos num país em que é preciso puxar ao autoclismo. Não há nariz que aguente este gentalha política que rouba sem vergonha. Vivemos num país em que se perdeu a noção do ridículo e da vergonha. Temos um país de políticos sem vergonha. E quando se perde a vergonha, perde-se a esperança na reconquista do respeito pelo próximo. A ladroagem é assumida.

E o mal...é que vivemos num país com um povo fraco e preguiçoso que traiu Abril e os seus capitães. A esperança é que as novas gerações venham limpar os estrume dourado que muitos estão a deixar acumular nos cadeiras do poder. Não se espantem se a malta um dia voltar a sair à rua....e só depois chegar a poesia.

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