sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Um Dantas ou uma classe de escritores mal pagos à jorna


MANIFESTO ANTI-DANTAS
por José de Almada-Negreiros

POETA D'ORPHEU FUTURISTA e TUDO

Basta Pum Basta!

"Uma geração que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi. É um coio d'indigentes, d'idignos e de cegos! É uma resma de charlatães e de vendidos e só pode parir abaixo de zero!"



Com as notícias que se esperam na madrugada de hoje, apesar de um artificio jurídico entretanto decretado,é caso para dizer como o Zeca, que a "morte saiu à rua num dia assim".Uso-lhe o verso numa metáfora contraditória à sua pretensão original. Dizia o zeca que "a lei assassina a morte que te matou". Brilhante poeta da canção de luta velada em surdina. Quase que fere a pele ver que décadas depois, tudo ficou por resolver. "O pintor morreu" e dele sobrou a pintura rubra sem que do sangue se tenha esvaído uma democracia sã.

A sociedade continua cheia de vampiros e que bela ironia perceber que da coincidência do destino se fez a curiosidade de duas estações televisões estrearem séries sobre...vampiros. Coincidência. Dizia o zeca "que eles comem tudo e não deixam nada".Oiço-lhe de novo a melodia e mais de 30 anos após a Revolução de 1974 que merda perceber que o que o povo sentia nessa data está cada vez a menos datas do regresso. E porque não é outra coisa, porventura uma infelicidade cuja acidentalidade nem merecemos, é uma merda!

Mais de três décadas passadas sobre os rubros cravos, vão-nos ao bolso da algibeira com tanta mestria como nos vão ao cérebro. Como é vil perceber que o novo Dantas é um grande feiticeiro que muitos engana. Hoje ouvi que o problema da justiça é estar partidarizada. Diria que o problema do país é o jornalismo ter nascido partidarizado na madrugada de Abril.

Dirão que não é errado um jornalista ter partido. Porventura não, se não for cego. É que a venda é que corta ao homem a raiz da razão. Um qualquer pensamento sempre sai da raiz mesmo que cortada. Décadas depois de Abril, as redacções de jornais agitam-se novamente. Faltam os repórteres de então para dar ao mote a espinha dorsal e toda uma mestria experiente de princípios e ética de coragem. Os que a vida e o desânimo não levaram, foram despedidos. Levou-os o poder político e económico para uma cama onde mijam e onde vão morrer velhos sem qualquer nobreza nem voz. Coincidência?

Restam os novos sem o referencial de princípios e dinheiro razoável para o sustento e para a fala desinibida. Felizes os que conheceram as velharias de uma classe que enjoa qualquer defunto. Não me interessa que um procurador de sua excelência (a República Portuguesa leia-se) e um presidente do Deus Supremo digam que não há relevância criminal para coisa nenhuma, ou que a verdade não é válida porque não foi o tipo certo a validar. Isso seria para os tribunais, se lá deixassem chegar o caso. Como uma grande antigo jurista hoje questionou: "mas estamos todos doidos?". Os tribunais procuram provar a verdade material. Qualquer manual básico diz aos mais incautos que o jornalismo procura a verdade original e quiça utópica.

O jornalista é por desiginio e função um ser mais sonhador e utópico que um magistrado do Ministério Público. Persegue com os dentes os contornos da verdade tal qual aconteceu. Dirão que isso é ser utópico e romântico. Seja, mas é na atitude e na tentativa de o ser que está a diferença. Se assim não fosse, não era o jornalismo o quarto poder e substituíam-se os repórteres por qualquer cronista de craveira.

Enoja-me ver um clero de bispos agora em apoteótica defesa dos princípios do senhor chefe máximo quando antes mandaram uma dezena para a fogueira e não questionaram o seus actos só porque os visados eram gente menor. "O chefe máximo não é um cidadão qualquer". Desculpe, diga lá outra vez. Isto é algum episódio do mundo da Alice no País das Maravilhas? O chefe tem mais responsabilidades por inerências, mas os direitos são os mesmos e os deveres ainda maiores.

Dá-me a volta à tripa cheirar um certo jornalismo podre e sórdido que se barricou em certas redacções e que repente se mostrou vergado por convicções partidárias. Não quero saber se o chefe é rosa, laranja ou vermelho. Quero saber se tem contas a prestar e se o seu livro de faltas é cada vez notoriamente maior. Já chega e o Povo merece saber. Se nada há para incriminar ninguém, que se mostre esse nada. Se o que abafam é nada, então mostrem o baralho de cartas e deixem de fazer batota debaixo da mesa. A verdade tem destas coisas. Quanto mais se conta maiores são as consequências e as cabeças a rolar.

Mas há algo em que realmente a Justiça e o Jornalismo são iguais: fazem-se do Povo e para o Povo. Tudo o resto é, em maioria, diferente. Há sempre uma altura em que o jornalismo sério - que existe como último bastião democrata - tem de quebrar a lei, resistir e denunciar. Pena que a coragem, ao contrário do Sol, quando apareceu não foi distribuída de igual forma para todos. Uma boa dose de tomates nunca fez mal na salada de um jornalista. A um repórter não chega um bloco e uma caneta. Como escreveu Almada Negreiro em 1916: "Basta".


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