quarta-feira, abril 12, 2006

Jesus Cristo está vivo em Azeméis


A imprensa nacional de referência é muito diferente da imprensa regional. E ainda bem! Comecei há pouco tempo a aperceber-me disso e admito que, nos primeiros dias, quase sucumbi de agonia ao ver as tremendas diferenças, quer no que diz respeito à ética, quer na rotina diária que dá vontade de literalmente cortar os pulsos.

A imprensa regional é mais mesquinha, popular e mais próxima do povo e do que é rural. O mesmo se percebe na relação entre esta e as fontes de publicidade, com as quais existe uma enorme promiscuidade. O mesmo se aplica ao poder político autárquico.

Os jornais regionais lutam constantemente entre si pela escassa publicidade que podem anunciar. Com efeito, os concelhos mais rurais (e aqui não falo apenas de áreas do interior mas também do Porto e Gaia) não tem muitos grandes anunciantes e os que têm preferem os grandes jornais de âmbito nacional. Por isso, os jornais regionais lutam pelos restos entre si, de uma forma que por vezes até chega a ser violenta. Não olham a meios para conseguir publicidade (relembra-se que é a única fonte de rendimento) e não hesitam, por muitas vezes, em colocar em causa valores éticos e morais do exercício do jornalismo.

A escassez de publicidade, de melhores jornalistas (recorrem muitas vezes a colaboradores antigos que não auferem dinheiro do tipo “o Sr. Manuel electricista daquele bairro”) remete a imprensa regional para um poço medonho onde por vezes não se olha a meios para ganhar dinheiro. Serão por isso jornais ou pasquins?

O jornal “A voz de Azeméis”, um dos melhor jornais regionais, é bem o exemplo disso. Ontem vi a primeira página desse semanário e não consegui passar indiferente depois do choque inicial. É certo que estamos na Páscoa e que a maioria das pessoas celebra esta quadra, mas também é certo que os jornais e os jornalistas juram seguir princípios éticos e deontológicos, tais como ser imparciais neutros em relação a valores religiosos, raciais e políticos..etc.. Na verdade os jornalistas são um do pilar mais sagradado da Democracia. Quando o jornalismo está pobre a Deomcracia fica podre e pestres a morrer.

Estou certo que muita gente vai procurar este jornal por ter aquela imagem de Jesus Cristo na primeira página a deseja “Feliz Páscoa” para colar nos mais variados sítios. E acreditem porque isto é mesmo verdade e acontece. Aliás a decisão de colocar a imagem na primeira página não é tomada ao acaso. Os responsáveis sabem disto. Mas o que pergunto é, que mesmo sendo assim, deverá um jornal fazer isto na Páscoa, de uma forma tão FACTUAL? Não será isto um atentado ao jornalismo?

As pessoas querem a imagem. Mas o que devemos fazer: dar às pessoas o que elas querem ou dizermos as pessoas o que elas deviam ler? De uma forma ou de outra podemos cair em extremos, mas o bom senso poderá residir no meio-termo. Até porque o jornalista tem direitos e DEVERES consagrados na Constituição da República. ÉSão agentes com fortes deveres sociais. Manipulam a realidade.

Aproveito para vos pedir uns brandos segundos de observação da primeira página do referido jornal. Vão notar que entre a imagem de Jesus Cristo e a publicidade, que inunda o restante espaço, só ficou um mísero espaço para aquilo que um jornal serve:noticias. Gostava de saber o que os jornalistas e outros que andam no mundo dos média pensam disto. (?)

Mas por outro lado, não se esqueçam também que…muitas vezes, a única saída para os recém licenciados em jornalismo está precisamente na Imprensa Regional. O Mundo não é perfeito, mas pode ser que com esse jovens algo mude. Ou não!

3 comentários:

Anónimo disse...

Poix éééé. N sou do meio, por isso n vou dar a minha opiniao, a n ser em relaçao ao último paragrafo do teu texto: sim, se os jovens forem empreendedores e ah e tal...podem mudar um bocadinho os "sistemas" desse tipo de jornal...em vez de cortarem os pulsos. *

Anónimo disse...

Pedro: acho muito acertadas as tuas observações acerca da imprensa regional e das práticas "jornalísticas" que por ela são seguidas. A grande maioria dos órgãos de comunicação não nacionais são, realmente, pasquins e folhetins publicitários/propagandisticos.

Tirando algumas excepções (estou a lembrar-me de alguns jornais e rádios sedeados em cidades como Coimbra, Aveiro ou Braga, onde já vai havendo algum massa crítica e consumidora),que só confirmam a regra,o cenário é deprimente.

Vou deixar um exemplo concreto mas que pode ser aplicado, em maior ou menor escala, a todo o país: na cidade de Amarante - que tem 15 mil habitantes e cujo concelho tem 60 mil - existem 4 ou 5 jornais semanais.
Os jornais têm má apresentação gráfica, praticamente todas as páginas são preenchidas com publicidade e, o que sobra de cada edição, é completado com notícias feitas à base de notas de imprensa autárquicas, com o futebol dos distritais e com artigos de opinião que não interessam a ninguém, escritos por vetustos sr´s. doutores cheios de teias de aranha. As notícias são as mesmas, a forma de escrever é a mesma (cheia de lugares comuns, com um jargão e "palavras caras" completamente despropositados) e o interesse é o mesmo... praticamente nenhum.

As causas parecem-me várias e passíveis de mudar num futuro que, espero, não esteja muito distante:
- baíxissima taxa de leitura de imprensa informativa dos portugueses (só queremos saber do jornal da bola);
- o facto de a maior parte da imprensa portuguesa (tanto o capital como as redacções) estar, ainda, nas mãos de aprendizes de tarimba, sem formação "científica" e, que fazendo "jornalismo" por carolice e para ganhar uns cobres, fazem maus jornais;
- a dificuldade EXTREMA e congénita que o português, enquanto povo, tem em unir esforços e em trabalhar em conjunto para atingir uma finalidade. Se em vez de 4 ou 5 pasquins existirem 1 ou 2 diários, provavelmente o produto final terá mais qualidade, interesse, e permitirá dar condições laborais decentes a uma classe que, no jornalismo local (e não só), vive à base de bagatelas.

Há que cada vez mais pessoas a formarem-se em jornalismo e comunicação em Portugal. O mercado está sobrelotado? Pois está, mas ao menos o nível médio do que é feito vai subindo, conforme os poeirentos dinossauros da imprensa local se forem extinguindo, e no lugar deles surjam pessoas que sabem como é que se faz jornalismo.

Wordphantom disse...

Caro Funguhs,

Assseguro-lhe que não tenho uma predilecção pré-fabricada pela imprensa 'de referência. Tenho uma preferência por bom jornalismo, apenas! Se não vale a pena contra-argumentar, porque o fez? Entre linhas assume que é verdade o que escrevo no post.

De qualquer forma, sabe como é o cenário, não preciso de o ilustrar mais.

Contra-argumento e discordo da sua opinião e faço-o com factos demonstráveis nas páginas regionais e nas nacionais. cada um que analise e veja a diferença.

Bem sabe que as opiniões divergem, mas o factos são sagrados!