terça-feira, abril 24, 2007

Jamais



Nunca estive contigo
O tempo apenas iludiu
Os passos da minha alma
A minha vontade voraz
Nunca passou pelos poros do teu corpo
Os meus olhos apenas foram fustigados
Pela penumbra da tua aurora

A minha janela nunca se debruçou
Sobre os teus olhos
Nem os meus braços foram breves andantes
Do teu semblante
O sonho apenas me enganou na realidade

Temo que apesar de ter estado ao teu alcance
Nunca na verdade tenha sido teu
Temo que apesar de te ter beijado
E amado ao luar da menina dos teus olhos
Nunca te tenha tão pouco conhecido

Refuto qualquer condição de prova
O tempo que não te dei
Não pode agora ser cobrado
Insurjo-me contra esse deus que exige tua presença
Não podes voltar onde nunca estiveste

Ouve, nós nunca existimos
O espelho dos tempos deixou-nos respirar juntos
Esclareço-te à vontade de um ser que te sussurra a verdade
Um que te tocou a pele mas nunca a alma

Importo-me se me clamas no silêncio do teu coração
Antes perpetuado em surdina pela hipocrisia do tacto
Não hei-de ser teu
Os céus não te deram esse direito
Apesar do destino to consagrar

Não segui a vã memória que me atraiçoa todos os dias
Quis o meu coração e a minha vontade

Escuta, no silêncio de uma sala onde só nós estamos
Sempre fomos folhas cálidas de árvores longínquas
Caíste perto de mim e deste ao vento a tua distância
Não mais a brisa te dará o que antes passou pelo teu corpo.

Pedro Dias

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