quinta-feira, janeiro 24, 2008

As Palavras dos outros


As vezes faço-me pensar que deserto sou eu nos dias que me teimam. Entre o acordar e o pôr-do-sol, uma agonia de rotina sem fim em que navego entre as cidades de histórias, as palavras dos outros e o meu papel tingido por uma caneta apressada. Não sei se entre a acalmia dos breves segundos extintos e raros desses e destes dias – que no fim são todos uma amálgama das mesmas horas – ganho uma qualquer função na fusão de mundos ou se entrelaço os estranhos a quem lanço primeiras palavras tímidas e avulsas, ora ingénuas ora provocatórias.

E assim, sem fluir ao certo na minha mente do lugar que ocupo no centro das pessoas com as suas máscaras, vou caminhando todos os dias para o mesmo sítio de onde saio para lhes falar, sem dor nem cansaço. Escrevo porque as palavras que remeto contribuem para o meu projecto de alimentação diária. Mas a razão pela qual enceto os passos das palavras é outro. É que aquele que ama as palavras deixadas num qualquer papel não é mais do que o que escreve, nem tão só o que as palavras dos outros o deixam ser.

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