terça-feira, fevereiro 27, 2007

O bafo do meu café



Hoje não me deitei contigo

As lágrimas que sorviam do teu corpo

Negaram a chuva negra e cálida

Que amadurecia em mim

Hoje perguntei-te onde andavas

À cor da pergunta conferiste um Não

Quiseste negar-me a luz

Atirando-me para os calaboiços

De um infame silêncio


Já não te vejo na calçada escura

Não me cruzei mais contigo

Como quem diz olá ao ser

Que cruza o passeio da vida

Procurei-te entre paredes, palavras

E músicas…

Que à minha memória não perdoou

Em me lembrar afoito entre sonhos

E à vontade de te encontrar.


Perguntei por ti no café,

Mas a minha chávena

Vertia sozinha.

E o calor de outrora

Esfriou o bafo do primeiro café do dia

Que marcava a tua aurora em mim.

Continuei os meus passos

E na rua caiu uma folha de Outono

Perdida…

E sozinha, esgotada de respostas.

Não há árvores no meu destino

Trémulo porque pequeno

Forte porque resiste


Já não te encontro nas palavras que escrevo

Ainda que o meu âmago teime em te lembrar

Não sei se isso significa o que se transformou

Ou o que perdi à sombra de um outeiro.

Sei que à luz de um sol que se põe

As palavras inundam a minha memória

Com a tua imagem e o teu cheiro,

O teu toque…

Amadurece em mim

Um sentimento bastardo

Pedro Dias


Entre as páginas vernáculas dos jornais do dia, desfolhadas ora à pressa ora com uma calma pensativa, o teclar rápido de um portátil que vive comigo a natureza dos meus dias, um café afoito - ao lado do portátil - trazido à socapa depois de escadas descidas à pressa...

A verdade é que hoje, terça-feira [o que acabo de escrever é uma pvt, entenda quem conseguir e quiser], estou farto da realidade dos dias desse raça triste, "sem tomates" e parola, nascida neste pequeno quadrado luso deitado à beira-mar (e ilhas, entenda-se).

Por isto tudo e por nada...não resisto ao mais apetecível....um bom café ladeado por um papel firme e uma caneta taciturna.

2 comentários:

Anónimo disse...

Andei vários dias a lê-lo...até o poder pronunciar alto.
A grandeza da alma produz textos destes, mesmo que a caneta teime em permanecer taciturna...Há quem diga que assim é que tem de ser. Prefiro acreditar nos dons que tocam apenas um grupo restrito de comuns mortais*

sapatilha disse...

o melhor de sempre *