domingo, outubro 25, 2009

Quando o novo jornalismo mata e o velho jornalista já morreu


Desde finais da década de 80, início da de 90 que a lógica financeira passou a imperar nas empresas. A meta principal é a elevada rentabilidade. Para reduzir os custos, cortou-se no número de empregados e nos salários, deslocalizaram-se serviços e standartizaram-se os procedimentos. A introdução da gestão por objectivos gerou enorme competitividade, quebra das relações, programas de mobilidade e de reconversão profissional. Os problemas de stresse e de depressão ligados ao trabalho atingiram níveis nunca antes conhecidos.

Resposta à pergunta "O que está na origem da onda de suicídios associados a stress laboral em França"? Em Entrevista a Paul Moreira, jornalista e co-autor do livro "travailler à en mourir" sobre suicídios por stress laboral.

Há poucos dias, dizia-me um "velho jornalista" que já não existem jornalista, que agora são todos "conteúdista", produtores de conteúdo pretendia ele dizer com uma expressão cómica que resume o drama da profissão. Hoje quase não se escrevem nem se dão notícias, hoje fazem-se histórias sempre bem recheadas dia após dia pelo contar de episódios que alimenta mas audiências e vendas de jornais. Quem nunca ouviu a expressão da moda "temos de ter alguma coisa sobre isso"?... mesmo que "isso" seja uma história que nasceu há meses e morreu há anos, mesmo antes de ter tido algum interesse jornalístico a bem da comunidade das vendas em banca.

Triste história que o mundo hoje conta do jornalismo, aquele que antes contava as histórias do mundo. Há um vampirismo incessante onde o dinheiro é sangue, a parte de alguns projectos que sem descurar o negócio conservam algum respeito pelo contar de histórias. E nisto embarcam muito "bons" jornalistas aliciados a bom peso de euros ou dólares. Numa dinâmica de notas onde os milhares são tantos que se esquecem dos princípios mais básicos das coisas que começaram por almejar fazer quando eram simples estagiários ou nem isso... Muitos que embarcam no assédio laboral diários dos colegas que transforma os dias num inferno.

Mas o Inferno de uns, dos que nunca lá quiseram bater à porta, dura um dia. Os que o provocam com eles se arranjam quando o palácio vermelho soltar o animal bem delgado e cornudo...esse paraíso dura uma eternidade.

1 comentários:

Major Tom disse...

Infelizmente assim é... De roedores de canelas suspeitas e pesquisadores de histórias, os jornalistas passaram a microfones de serviço e bengalas financeiras. Muitas vezes de quem um dia terá lido premissas deontológicas entre copos de cerveja, mas mesmo assim lhes reconheceu valia. Será que Newton tinha razão?