sexta-feira, junho 26, 2009

Michael Jackson: o Rei negro da Pop branca


Tinha 50 anos, mas a idade parecia nunca ter passado por ele. Antes um devaneio de bizarrias que o extinguiram do fogo fátuo das super estrelas da musica mundial - que os anos 80 bem souberam criar - e onde sempre mereceu estar. Deixou-nos branco, apesar da vida o ter erguido negro em passos de arte no palco.

Michael Jackson não era um artista, mas antes um personificar universal da arte individual que semeou qual mágico na música. Aproveitou bem - talvez sem nunca ter percebido - o mistério de uma época onde a voz era o elogio supremo. Nasceu como um voz limpida, delicada...às vezes demasiado meiga para um homem que chegou aos 50. E ainda agora dizer homem soa grotesco, desfasado. Ainda mais quando se ouve, nítida, a sua voz.

Há doze anos que não se mostrava num concerto só dele. A pele tinha-se feito mais cálida - não se sabe se por doença se de propósito - e o músico deixou-se envenenar em bizarrias sem sentido. Michael era contudo, e será sempre, um estrela cadente da Pop, senão o seu rei supremo como os jornais se apressam a vaticinar. A loucura desmedida e obscura da sua última década não matou o música, o actor de passos subtis e impressionamente perfeitos em palco. Nunca ninguém conseguirá matar o cantor, nem ele próprio, apesar de se ter esforçado terrivelmente.

Escândalos de pedofilia, de bizarria e de má gestão de finanças... "I'm gone make a change for once in my life".... o verso da subtil melodia provoca o mais animalesco dos homens...Michael morreu criança. Talvez, quem sabe, sempre quis mudar o mundo, começando por ele. Escolheu a mais dura tarefa: mudar-se, por completo, para um corpo estranho, mantendo o nome e a magia do ser que lhe antecedeu em berço. Começou cedo a mostrar os dotes, militarmente cultivados pelo pai. Alcançou a ribalta, o estrelato, a fama e engoliu o mundo em conquista musical....tudo isso não chegava, queria ser branco...

Será o mais racista dos homens negros? A experiência ensina que talvez fosse o mais frágil de todos nós...um igual ser fraco. O Rei negro foi criado pela Pop branca...e de imediato quis ser igual aos seus súbditos, aproveitando para se esquivar em cor ao pai...que terá odiado tando quanto amou. A adolescência que cedo perdeu, conquistou tarde, no final da vida, num excentricidade alienigena. Quem pode dizer que não tinha direito a ela, senão desde sempre, pelo menos agora? A bizarria e o descuido, o gesto menos cuidado, a palavra menos medida tinham um nome: adolescência. Finalmente o menino, homem forçado a crescer desde tenra idade.

E por isso, o mundo esquecerá o bizarro da vida de Michael Jackson. Para sempre ficará Billie Jean, Bad e Thriller.... Michael Jackson morreu ontem a tentar voltar ao palco. Com 50 anos era o mesmo miúdo ingénuo, mas enérgico que em 1971 se iluminou nos Jackson 5.

2 comentários:

PB disse...

Já li vários textos sobre esta partida mas poucos que conseguissem condensar tanto, e tão bem, em tão pouco. Bem escrito e melhor pensado.

Wordphantom disse...

Obrigado PB!