domingo, maio 13, 2012

Olá. A Terceira Vaga voltou

De volta!

segunda-feira, setembro 05, 2011

A Folha Livre


Acordei num dia ignóbil e lento
Sem a pressa do café da manhã
Sem o telefone a manietar a corda do tempo

Ausente dos papéis
Da luz de um ecrã onde bato as letras do que passou,
Liberto-me.

terça-feira, junho 14, 2011

Adeus Baía

Foto: António Rilo

Chego a casa e abro a caixa de email no portátil. Recebo mais umas missivas das que convocam a carne e essencialmente os músculos em acrobacias rectas. Sorrio e cedo à tentação de soltar um impropério elogioso ao remetente. Percebo depois que a série de epístolas atentatórias à moral e aos bons costumes, consideradas, quem sabe, talvez pecado numa qualquer religião, não são mais do que uma ironia. Conheci-te há uns poucos anos quando o vigor ainda te acercava o coração, depois de uma partida mal pregada pelo destino que ontem te levou em desforra pela majestosa derrota que lhe tinhas empregue.

Quando pela primeira vez te vi, moço sentado numa secretária ao lado da tua, achei-te um tipo maníaco com uma série de taras desenvolvidas por várias coisas pelas quais vale a pena ser doído, uma fonte inesgotável de impropérios erguidos a essas taras, grande atirador de piadas e anedotas e tudo que se imagine que anime inesgotavelmente o mundo em boa companhia. Achei-me burro. À medida que cada vez menos te via, fui percebendo que afinal toda a essa palavra fácil que tinhas, e mesmo a credulidade, faziam-te genuíno.


Talvez há dois anos, na véspera de Natal, quis ir, não sei bem porquê, a um centro comercial. Achei que precisava de comprar mais oferendas para juntar ao saco que já estava cheio. Não comprei nada e acabei por sair farto da azáfama do Natal Comercial. Achei-me burro. E num ápice esbarrei-me contigo na porta de saída, sozinho. Falaste-me, robusto, da enorme tristeza e quiçá revolta que tinhas no caminho que o teu velho jornal levava e da vida que querias levar sem trabalhos, sem preocupações e com saúde. Falamos talvez uma hora sem arredar pé. Estava a família na mesa e desejei-te Bom Natal.


Vi-te depois, pontualmente, numa ou noutra conferência onde tinhas sempre amigos. Tinhas sempre amigos em qualquer parte …e tens. Sempre vigoroso, risonho e a tentar – com a vontade e credulidade que te era característica - foder o Mundo enquanto é tempo. E foder, leia-se, matar a tristeza de dezenas, deixar os colegas com as calças na mão de tanto rir, rasgar a vida em plena diversão e abraçar o Mundo com dois braços bem longos. Tudo abraçavas. Lembro-me das tuas partidas afoitas, dos jornais que levavas e trazias, das câmaras fotográficas a que perdias o jeito, do computador não obedecer ao que simplesmente querias sem dar as ordens em linguagem informática. Lembro-me de tudo e tão pouco. Acompanhei o teu adeus aos jornais, sem na altura perceber bem quem eras. E eras – e és – um tipo banal e genuíno que não mereceria tão pouco uma monumental prosa, não fosse o mundo estar a ficar sem tipos como tu, genuínos animais em extinção.


Se há algo que eras é genuíno, puro, sem misturas…tu próprio e com toda a legitimidade. Tinhas agora direito ao teu espaço, às tuas coisas, às tuas fotografias e à tranquilidade de vários anos teus.


Soube ontem que te foste embora. Queria-te ter dito camarada que eras Grande…e se me estiveres a ler quero que saibas que eras, na tua apenas aparente ingenuidade, um dos mais alegres e genuínos seres que conheci. Tenho hoje a certeza que o Céu – para quem acredite – é agora, contigo, um local muito mais divertido a conhecer.


Até sempre Baía Reis!

quinta-feira, novembro 04, 2010

A uma geração que se quis livre e a outra que morreu no ultramar



La Bohème (tradução)

Eu lhes falo de um tempo
Que os menores de vinte anos
Não podem saber
Montmartre naquele tempo
Colocava seus lilás
Até sob nossas janelas
E se o humilde quarto mobilado
Que nos serviu de ninho
Não tinha um boa cara
Foi lá que a gente se conheceu
Eu que chorava miséria
E você que posava nua

A boémia, a boémia,
Isso queria dizer: a gente é feliz
A boêmia, a boêmia,
Nós só comíamos um dia em dois

Nos cafés vizinhos
Nós éramos alguns
Que esperávamos a glória
E apesar da miséria
Com o estômago oco
Nós não deixamos de crer na glória
E quando, em alguma taverna
Com uma boa comida quente
Nós pegávamos uma tela
Nós recitávamos versos
Juntos ao redor do aquecedor
Esquecendo do inverno

A boémia, a boémia
Isso queria dizer: você é bonita
A boémia, a boémia
E nós tínhamos ideais geniais

Frequentemente me acontecia
Diante do meu cavalete
Passar noites brancas
Retocando o desenho
Da linha de um seio
Da curva de um quadril
E isto só pela manhã
A gente se sentava finalmente
Antes de um café com creme
Esgotados mas deliciados
Era preciso que a gente se amasse
E que amasse a vida

A boémia, a boémia
Isso queria dizer: a gente tem vinte anos
A boémia, a boémia
E nós vivíamos do ar do tempo

Qualquer dia desses
Eu farei um passeio
Ao meu antigo endereço
Eu não o reconheço mais
Nem as paredes, nem as ruas
Que viram minha juventude
E do alto de um escadaria
Eu procuro o atelier
Que não existe mais
Em sua nova decoração
Montmartre parece triste
E os lilás morreram

A boémia, a boémia
A gente era jovem, nós éramos loucos
A boémia, a boémia
Isso não quer dizer absolutamente nada


O Portugal de Salazar é feito de duas gerações jovens: uma que fugiu para França e outra que "morreu" na guerra em África nas antigas colónias Portuguesas. Ambas cultivavam a inspiração pelos valores, música e ideais franceses.

As gerações que se seguiram divergiram primeiro para os ideais ingleses e depois para o mundo novo e livre do sonho norte-americano. Encontrei, já por várias vezes, vários exemplos das anteriores gerações e, não são, afinal, assim tão "pimbas" ou "folclóricos" como me habituei a vê-los, sempre de cassette de Charles Aznavour em permanente rodagem no auto-rádio do Renault ou Peugeot. Passei a perceber que as gerações que combateram na guerra - e aqui bem percebo os resultados por proximidade familiar - ficaram em África. Agora com 60 e poucos anos, são ainda os adolescentes que partiram e choram o roubo da juventude. Os jovens que emigraram para França, para o desconhecido, tiveram a ousadia de opinar, pela primeira vez num país que era ainda de Salazar e da PIDE.

Não me atrevo a dizer qual foi a melhor geração e quem fez melhor: quem ficou ou quem se foi. Mas percebo que ambas foram estruturantes para o país. Só tenho pena que os que emigraram para França não tenho depois trazido mais valores da defesa da liberdade e da expressão que por lá se faz sentir por estes dias em que o país esteve em greve geral contra o devaneio dos políticos consumidos pelo capitalismo.

quinta-feira, outubro 28, 2010

Em honra aos políticos deste país