De volta!
domingo, maio 13, 2012
segunda-feira, setembro 05, 2011
A Folha Livre
terça-feira, junho 14, 2011
Adeus Baía
Quando pela primeira vez te vi, moço sentado numa secretária ao lado da tua, achei-te um tipo maníaco com uma série de taras desenvolvidas por várias coisas pelas quais vale a pena ser doído, uma fonte inesgotável de impropérios erguidos a essas taras, grande atirador de piadas e anedotas e tudo que se imagine que anime inesgotavelmente o mundo em boa companhia. Achei-me burro. À medida que cada vez menos te via, fui percebendo que afinal toda a essa palavra fácil que tinhas, e mesmo a credulidade, faziam-te genuíno.
Talvez há dois anos, na véspera de Natal, quis ir, não sei bem porquê, a um centro comercial. Achei que precisava de comprar mais oferendas para juntar ao saco que já estava cheio. Não comprei nada e acabei por sair farto da azáfama do Natal Comercial. Achei-me burro. E num ápice esbarrei-me contigo na porta de saída, sozinho. Falaste-me, robusto, da enorme tristeza e quiçá revolta que tinhas no caminho que o teu velho jornal levava e da vida que querias levar sem trabalhos, sem preocupações e com saúde. Falamos talvez uma hora sem arredar pé. Estava a família na mesa e desejei-te Bom Natal.
Vi-te depois, pontualmente, numa ou noutra conferência onde tinhas sempre amigos. Tinhas sempre amigos em qualquer parte …e tens. Sempre vigoroso, risonho e a tentar – com a vontade e credulidade que te era característica - foder o Mundo enquanto é tempo. E foder, leia-se, matar a tristeza de dezenas, deixar os colegas com as calças na mão de tanto rir, rasgar a vida em plena diversão e abraçar o Mundo com dois braços bem longos. Tudo abraçavas. Lembro-me das tuas partidas afoitas, dos jornais que levavas e trazias, das câmaras fotográficas a que perdias o jeito, do computador não obedecer ao que simplesmente querias sem dar as ordens em linguagem informática. Lembro-me de tudo e tão pouco. Acompanhei o teu adeus aos jornais, sem na altura perceber bem quem eras. E eras – e és – um tipo banal e genuíno que não mereceria tão pouco uma monumental prosa, não fosse o mundo estar a ficar sem tipos como tu, genuínos animais em extinção.
Se há algo que eras é genuíno, puro, sem misturas…tu próprio e com toda a legitimidade. Tinhas agora direito ao teu espaço, às tuas coisas, às tuas fotografias e à tranquilidade de vários anos teus.
Soube ontem que te foste embora. Queria-te ter dito camarada que eras Grande…e se me estiveres a ler quero que saibas que eras, na tua apenas aparente ingenuidade, um dos mais alegres e genuínos seres que conheci. Tenho hoje a certeza que o Céu – para quem acredite – é agora, contigo, um local muito mais divertido a conhecer.
Até sempre Baía Reis!
quinta-feira, novembro 04, 2010
A uma geração que se quis livre e a outra que morreu no ultramar
La Bohème (tradução)
Eu lhes falo de um tempo
O Portugal de Salazar é feito de duas gerações jovens: uma que fugiu para França e outra que "morreu" na guerra em África nas antigas colónias Portuguesas. Ambas cultivavam a inspiração pelos valores, música e ideais franceses.
As gerações que se seguiram divergiram primeiro para os ideais ingleses e depois para o mundo novo e livre do sonho norte-americano. Encontrei, já por várias vezes, vários exemplos das anteriores gerações e, não são, afinal, assim tão "pimbas" ou "folclóricos" como me habituei a vê-los, sempre de cassette de Charles Aznavour em permanente rodagem no auto-rádio do Renault ou Peugeot. Passei a perceber que as gerações que combateram na guerra - e aqui bem percebo os resultados por proximidade familiar - ficaram em África. Agora com 60 e poucos anos, são ainda os adolescentes que partiram e choram o roubo da juventude. Os jovens que emigraram para França, para o desconhecido, tiveram a ousadia de opinar, pela primeira vez num país que era ainda de Salazar e da PIDE.
Não me atrevo a dizer qual foi a melhor geração e quem fez melhor: quem ficou ou quem se foi. Mas percebo que ambas foram estruturantes para o país. Só tenho pena que os que emigraram para França não tenho depois trazido mais valores da defesa da liberdade e da expressão que por lá se faz sentir por estes dias em que o país esteve em greve geral contra o devaneio dos políticos consumidos pelo capitalismo.
Publicada por Wordphantom à(s) 00:38 0 comentários
Etiquetas: Emigrantes, França, liberdade, Portugal